“Todo Setembro, todo ano, há um festival profano na vila de Alter do Chão onde Tupaius, turistas, mocorongos, anarquistas, formam uma só nação. Com rima na ponta da língua, com a dança na ponta do pé, vou por terra, ar e água para o fogo do Sairé”.

Nestes versos da compositora Maria Lídia, temos uma visão de Santarém, uma nação abençoada pela natureza. A força poética que brota do rio Tapajós com as suas águas cristalinas e suas praias de areia branca e o Amazonas na sua força de rio construtor criando ilhas, lagos, mudando sempre a paisagem. O império das águas, das matas e da beleza de um passeio pelas praias do Maracanã, do Pajuçara, de Alter do chão, do Arapiuns a uma volta no lago grande do  Curuá, tudo é beleza.

Por aqui, come-se bem, come-se camarão, tambaqui, curimatã, acari, pirarucu. No escabeche, numa caldeirada. Frito, assado, moqueado, num restaurante ou numa piracaia, uma festa cuja finalidade é comer e cantar. Acende-se a fogueira na praia e se faz a festa.

Por isso seu povo é assim. Um povo que gosta de se divertir, de dançar e de cantar. E este canto vem daí, desta natureza exuberante, da beleza do lugar, e da alegria irreverente do povo mocorongo que é acima de tudo, um povo feliz.

Pense em um som natural. Um som que veio da floresta, do rio, dos pássaros, trazidos pelo vento, misturou-se ao grito de festa dos Tupaius, que depois juntou-se aos cantos de alegria e de lamento dos negros e caboclos e misturou-se as valsas e salsas trazidas pelo europeu.
Invadiu os salões, os clubes, as festas, as serenatas numa cidade que pediu para cantar a sua beleza e cantou.

Como aquelas do torrão em que nasci, raras coisas nesta vida são gostosas como a ida em noite de lua cheia a Ponta de Pedras afamada, na terra do verde bravio o azul sinuoso passeia é a mansa corrente de um rio que trago correndo nas veias, sempre o rio, as praias, o povo, a beleza.

O canto forte da terra como nos versos de Beto Paixão: “A lua é cheia e o salão está vazio, o povo dança na sobra da castanheira, o Amazonas dá sinal que liberou, o amor é livre e pode ser feito na areia”. Ou nos versos de José Azevedo:  “sou uma ilha sem areia. A única árvore, queria vestir o vermelho da tarde, o dourado do sol, o ultimo suspiro. Ser voz, ser fonte, ser até o horizonte.

Santarém é assim, hoje canta com gente de todas as bandas, com gente de todos os cantos.