Être femme au pays du Carnaval

 

En ce 8 mars 2017, nous nous faisons porte-parole de l’écrivain brésilien Luiz Ruffato, qui dénonce une fois de plus la condition de la femme au Brésil.

Selon les sondages dont il nous fait part, 54% des Brésiliens questionnés connaissent au moins une femme qui s’est déjà fait agresser par son partenaire, 56% connaissent au moins un homme qui a déjà agressé sa partenaire, et cela toutes classes sociales confondues.

 

 

« Machisme tue », Contre la culture du viol, 2016

Ato contra a cultura do estupro, no ano passado. TOMAZ SILVA (AGÊNCIA BRASIL)

 

 

Dans le riche État de São Paulo, responsable à lui seul du tiers du PIB du pays, les chiffres dénoncent en 2016, et par rapport à l’année 2015, une augmentation de presque 7% de viols : en moyenne, une femme au moins est violée toutes les heures. Dans le reste du Brésil, et d’après le Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ce chiffre passe à cinq. Cela correspondrait à des plaintes déposées par environ 10% seulement des femmes concernées. Dans 58% des cas, la victime connaît son violeur. 23% des victimes ont des âges compris entre 11 et 15 ans.

 

Selon des études réalisées en 2010 par Mulheres Brasileiras no Espaço Público e Privado, une femme brésilienne sur dix a déjà été tabassée au moins une fois dans sa vie. 40% des femmes participant aux sondages avaient déjà été victimes d’une quelconque violence. Dans 80% des cas, leurs agresseurs étaient leurs propres partenaires.

 

D’après l’Organisation mondiale de la Santé, le Brésil occupe la cinquième place mondiale des pays où l’on tue le plus de femmes. Un tiers de ces crimes a lieu chez la victime, et est dû à une rupture sentimentale non acceptée par le partenaire. Des études montrent qu’une partie non négligeable de femmes brésiliennes se sent plus en sécurité dans l’espace public que dans son propre foyer.

 

Luiz Ruffato rappelle la loi qui vient d’être votée dans la Russie de Poutine, qui, entre autres, dépénalise la violence domestique qui ne porte pas sérieusement atteinte à la santé de la victime, et qui juge intolérable l’ingérence de la justice dans la vie de famille….

« Détail qui tue » : ce projet de loi, souligne-t-il, a été mené par deux femmes, députés et sénatrices du parti de Poutine…

 

Quel avenir pour la femme… construit dans le monde d’aujourd’hui ?

 

 

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Ser mulher no País do Carnaval

 

O Estado de São Paulo, sozinho, é responsável por um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil; tem duas universidades consideradas entre as mais prestigiosas do mundo (USP e Unicamp); a cidade que empresta o nome ao estado é uma das maiores, mais ricas, mais sofisticadas e a que oferece a maior diversidade cultural da América Latina. E nesse mesmo espaço geográfico registrou-se, no ano passado, um estupro por hora – isso mesmo, um estupro por hora. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, foram notificados 9.888 casos em 2016, um aumento de quase 7% em relação a 2015. Na capital foram seis estupros por dia – 2.299, alta de 10% em relação ao ano anterior.

Os números referentes ao Brasil são ainda mais assustadores. Conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada 11 minutos e 33 segundos uma mulher é estuprada no Brasil, ou seja, cinco a cada hora. E essas estimativas, tanto às concernentes ao estado de São Paulo, quanto à totalidade do país, são subnotificadas. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) calcula que por ano são 527 mil tentativas ou casos de estupro consumados no Brasil e, destes, apenas 10% chegam a ser reportados à polícia. Conforme o Instituto Sou da Paz, 23% das vítimas têm entre 11 e 15 anos; em 58% dos casos, o estuprador é conhecido das vítimas; e 29% têm ou tinham algum tipo de relação amorosa com as vítimas.

Em 2010, a Fundação Perseu Abramo, em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC), realizou a pesquisa Mulheres Brasileiras no Espaço Público e Privado e concluiu que uma em cada dez mulheres foi espancada pelo menos uma vez na vida. Ou seja, a cada dois minutos, cinco mulheres são surradas no Brasil. A pesquisa apontou ainda que 40% de todas as mulheres ouvidas já tinham sofrido algum tipo de violência (cerceamento da liberdade, ofensa psíquica ou verbal, ameaça ou agressão propriamente dita). Em 80% dos casos, o atacante é o próprio parceiro.

No ranking da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o quinto lugar no ranking dos países onde mais se matam mulheres no mundo. Segundo estudos do Ipea, a cada ano, em média, aqui são assassinadas cinco mil mulheres. Um terço desses crimes ocorre dentro da casa da vítima, após o fim do namoro ou casamento, cometidos por homens que não aceitam a separação. O Mapa da Violência 2015 – Homicídio de Mulheres no Brasil, lançado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), mostra que a taxa de feminicídio cresceu de 2,3 vítimas por 100 mil mulheres em 1980 para 4,8 em 2013, um aumento de mais de 100%.

Já a pesquisa Percepção da Sociedade sobre Violência e Assassinatos de Mulheres, realizada Data Popular e Instituto Patrícia Galvão, em 2013, concluiu que sete em cada dez entrevistados consideram que as brasileiras sofrem mais violência dentro de casa do que em espaços públicos e metade avalia que as mulheres se sentem mais inseguras dentro da própria casa. Os dados revelam que entre os entrevistados, de ambos os sexos e todas as classes sociais, 54% conhecem uma mulher que já foi agredida por um parceiro, 56% conhecem um homem que já agrediu uma parceira e 69% afirmaram acreditar que a violência contra a mulher não ocorre apenas em famílias pobres.

E o mundo, que está se tornando um lugar cada vez mais inseguro para todos, é mais cruel ainda para com as mulheres. A Rússia, governada pelo ex-chefe da KGB, Vladimir Putin, aprovou uma lei que despenaliza a violência doméstica, sempre que a agressão não causar danos à saúde da vítima – ou seja, investidas que provoquem “apenas” dor física e deixem marcas ou arranhões não são mais crimes na ex-União Soviética. Só quando o agressor voltar a bater no mesmo familiar poderá ser processado, mas unicamente quando o agredido conseguir demonstrar os fatos, porque a justiça não atuará nestes casos. O mais trágico nisso tudo é que os autores do projeto que tornou-se lei são mulheres – duas deputadas e duas senadoras do partido de Putin, que, recentemente, declarou: “A descarada ingerência na família pela justiça é intolerável ».

Na Rússia, como aqui, no País do Carnaval, vigoram as máximas de que em briga de marido e mulher não se mete a colher e que tapa de amor não dói. Tristes tempos.

 

Luiz Ruffato, El País, 1.02.2017

 

 

 

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