Amazônia : Imaginário real, Realidade imaginária (1)

Quem deseja realmente conhecer a Amazônia precisa estar disposto a reconhecer a complexidade e a diversidade que estão presentes em seu vasto território, não apenas na natureza, mas também nas pessoas que a habitam. A palavra Amazônia é hoje uma verdadeira marca. Há mais de 25 milhões de sites que a utilizam. São milhares de pessoas que a visitam e outros tantos que nutrem o desejo de conhecê-la. Mas que Amazônia buscam encontrar? A real, ou a imaginária? Este vasto território há séculos desperta curiosidade e cobiça desde que os colonizadores europeus circularam pelas águas barrentas e amarelas do imenso rio Amazonas à procura de metais preciosos, especiarias e até mesmo de uma espécie de civilização perdida, liderada por mulheres guerreiras. Note-se que o grande rio está na base do imaginário que se construiu sobre o imenso território. Ele sem dúvida é fundamental, mas não é tudo. Há muitos outros rios, igarapés, cursos d’água que recebem denominações diversificadas, e incontáveis nascentes que alimentam e compõem a rede hidrográfica. Nesta região, o rio é estrada, é fonte de alimento, é inspiração poética, é vida. Mas, ironicamente, por ele chegou a destruição, a morte.

RIOS AMAZONAS E TAPAJÓS, AS PROXIMIDADES DE SANTARÉM-PA

   

Nestas imagens, do próprio autor, vemos dois exuberantes rios da Amazônia brasileira.

Amazônia é um conceito construído, arbitrário, carregado de intencionalidades. Dá nome a um espaço geográfico que já passou e continua passando por diversas alterações, todas elas associadas a investida na busca de riquezas, afetando a fauna e a flora, assim como a composição química do solo, do sub-solo, das águas e do ar, e, claro, principalmente as pessoas que nela habitam. Hoje sabemos que a Amazônia abriga a maior biodiversidade do planeta. Da mesma forma, a composição humana amazônica é dinâmica, múltipla, singular, e ainda pouco conhecida, especialmente se considerarmos a amplitude do território em vez da concentração populacional. Portanto, não há uma Amazônia “cristalizada”. Mas não raro nos deparamos com análises nas quais a parte é tomada pelo todo, e a caracterização populacional de um “pedaço” da Amazônia é utilizada como expressão representativa de toda a região. Nesse sentido, apontamos a necessidade de incluirmos a pluralidade humana e sua distribuição pelo vasto e diferenciado território, se quisermos de fato conhecer a sua realidade, mesmo que cheguemos a ela pela via do imaginário.

Não dá para dizer que se conhece a Amazônia apenas por ter feito uma viagem a Belém, ou a Manaus, as duas maiores cidades, respectivamente capitais dos estados do Pará a Amazonas. Nem se conhece a Amazônia visitando um vilarejo distante ou uma comunidade isolada. Nestes casos, teríamos que especificar de qual “das amazônias” estaríamos nos reportando. A região é tão imensa e diversificada que abriga cidades nas quais encontramos um pouco do que se faz presente nos centros mais avançados do mundo, ao mesmo tempo em que, nos arredores deste oásis, existem pessoas vivendo em condições que se assemelham aos relatos das eras pré históricas. Por isso mesmo, conhecer a Amazônia exige esforço, seja no sentido do deslocamento em seu vasto território, ou na viagem propiciada pela leitura de textos fundamentados em informações e pesquisas confiáveis, com o aval da comunidade científica e a legitimação de seus protagonistas.

Como nativo desta região, e estudioso de sua educação escolar, me proponho a contribuir para a construção de olhar mais abrangente e menos estigmatizado no qual se possa ver a diversidade cultural com a intensidade que é dada a biodiversidade, e onde o exótico seja tratado como tal, e não como expressão de uma realidade forjada. Ter nascido na Amazônia e nela estar vivendo, representa um privilégio mas ao mesmo tempo um desafio. Privilégio de poder ver, a qualquer momento, paisagens originais e exuberantes, constituídas de seres vivos tão diversificados. Desafio de fazer algo, enquanto é tempo, para que o mundo continue a ter este patrimônio, mas entendendo que se faz necessário buscar o equilíbrio entre o desenvolvimento e a preservação, entre a natureza e as pessoas.

Neste texto inicial, vou apontar algumas questões históricas relativas a Amazônia. Durante a União Ibérica (1580-1640), a área territorial colonizada pelos portugueses no Atlântico Sul foi dividida, juridicamente, em dois Estados: o do Maranhão, ligado diretamente à Casa de Suplicação de Lisboa; e o do Brasil, dependente da Relação da Bahia (a partir de 1751, da Relação do Rio de Janeiro). Estado do Maranhão correspondia as capitanias do Maranhão, Pará e Rio Negro. Sofreu mudanças na denominação ao longo do tempo, como Estado do Maranhão e Grão-Pará, com sede em São Luiz (1654 a 1751), Estado do Grão-Pará e Maranhão sediado em Belém (1751 a 1772), foi desmembrado em Províncias quando a elevação do Brasil à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves (1815), e a partir da Proclamação da República do Brasil (1889), o antigo Grão Pará vasto território passou a ter suas unidades denominadas de Estado. Acerca da expressão Grão-Pará, embora haja controvérsias sobre sua origem, a versão mais aceita remete ao vocabulário tupi, onde “pa’ra” quer dizer rio. Os primeiros navegadores – espanhóis e portugueses – batizaram de Gran-Pará o trecho de confluência dos rios Amazonas e Tocantins. Daí veio a denominação da capitania do Grão-Pará, estabelecida em 1616.

A busca de riquezas foi o principal fator que motivou as Grandes Descobertas, desdobrando-se na ação colonizadora. Com essa afirmação, não estamos desprezando as motivações de natureza pessoal, pela busca de prestígio, nem tampouco as religiosas. Todavia, diversos fatores nos autorizam a dizer que interesses econômicos se sobrepunham aos demais, e fornecem as chaves para a compreensão do processo colonizador. O colonialismo, ao desestruturar as formas de organização social dos habitantes nativos, abriu caminho para a apropriação, por parte dos interesses privados, de recursos até então controlados por aquelas comunidades.

Sob o comando da Dinastia de Avis (que se estendeu de 1385 a 1580), Portugal se lançou à expansão marítima no século XV, pressionado, como outras nações européias, a buscar novas rotas comerciais, principalmente depois que se consumou a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453, fechando-se para os cristãos o milenar caminho pelo Mediterrâneo, que passava a ser dominado pelos comerciantes árabes e chineses.

Como alternativa só restava o domínio completo do Atlântico. Portugal foi exímio nessa tarefa, para a qual contou não apenas com insignes navegadores e ambiciosos monarcas, mas fundamentalmente com uma estrutura de suporte, alicerçada nas riquezas movimentadas pelo comércio.

Em janeiro de 1500, os exploradores espanhóis, sob o comando de Vicente Yanez Pinzon, chegaram ao delta do Amazonas e tentado navegar no sentido interior, tiveram que retornar ao mar, em face do risco que corriam as caravelas.

Daniel Kidder, pastor metodista que percorreu o Brasil no início do século XIX, faz a seguinte descrição da viagem de Pinzon:

 […] Os espanhóis foram muito bem recebidos pelos aborígenes, mas retribuíram vilmente sua bondade simples, aprisionando 30 dêsses entes inofensivos, para depois vendê-los como escravos. Pinzon supunha que a terra em que tocara fôsse alguma região da Índia, além do Ganges e que passara ao largo da grande cidade de Catai. Tomou posse da costa para a Coroa de Castela […] (KIDDER, 1972, p. 56)

 Ainda no ano de 1500, as expedições de Diogo de Lepe e Alonso Mendoza também teriam percorrido parte do curso do rio. Assim, teriam sido esses espanhóis os primeiros europeus a chegar em terras que hoje compõem a Amazônia brasileira e a navegarem pelo rio Amazonas, denominado inicialmente pelos espanhóis como Santa Maria de la Mar Dulce.

Todavia, em obra comemorativa ao primeiro centenário da Independência do Brasil, coordenada por Carlos Malheiro Dias, é negada a primazia dos espanhóis. Isso porque a política de segredo praticada por Portugal, contrariamente ao que adotou a Espanha, não autoriza que se estabeleça com precisão a precedência dos espanhóis, acredita-se que os portugueses já tivessem feito algumas incursões pelo Atlântico sul, antes da expedição de Cabral, em 1500.

Francisco Orellana, em 1542, conseguiu percorrer todo o grande rio. Tendo sido atacado por índios ferozes, montados a cavalo e cheios de adornos femininos, supostamente tidos como mulheres amazonas, denominou o curso d’água como Rio das Amazonas. Etimologicamente, o termo significa “sem peito” com referência ao lendário costume de mulheres que extraíam um dos seios para melhor manejar o arco. O mito das amazonas remonta ao passado greco-romano, quando poetas e escritores narraram histórias de guerreiras que viviam apartadas dos homens.

No próximo texto, darei continuidade ao relato histórico, apontando as singularidades que caracterizam a Amazônia, e chamando a atenção para as aproximações e os distanciamentos que estão presentes no imaginário e na realidade, o que nos leva muitas vezes a ter enorme dificuldade em encontrar os limites entre ambos.

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